Tudo
parecia muito bom, estava muito perfeito, o ambiente, o clima, os
olhares as conversas, as confidências.
Em
uma noite escura e sombria, os dois caminhavam juntos. Não se
tocavam, braços estendidos, casacos de frio, gorro na cabeça. A rua
deserta era convidativa para longas caminhadas sem destino.
As
conversas variavam de coisas corriqueiras do dia-a-dia a coisas
obscuras como vampirismo e até sexo. Os passos na rua gelada podiam
ser ouvidos de longe. Vez em quando se olham rapidamente. Os olhares
fulminantes não conseguem se fixarem. Talvez pela timidez talvez
pela extrema incerteza que permeava os corações. Sabiam que estavam
juntos por algum motivo, mas o medo de errar, de cometerem loucuras
os deixavam receosos de qualquer ação mais direta e íntima.
Caminharam
até a casa dela. Uma grande casa com janelas de vidro. Apenas uma
luz acesa numa pequena janela no alto. Ficaram algum tempo parados em
frente, tempo demais para o momento, e pouco tempo para o que
desejavam. Falaram sobre o tempo gelado, tentaram prever como estaria
o dia seguinte. Mais um tempo em silêncio.
Despedem-se
com um rápido beijo no rosto. Ela entra e ele caminha só pela rua
escura e gelada. Some no nevoeiro. Após entrar ela se despe. Veste o
roupão de dormir e se deita. Não consegue dormir. Fica com os olhos
vidrados no teto escuro. O vento la fora uiva nas janelas e nos fios
da rede elétrica. Ela pega o telefone. Vê as horas. São 00:40.
Será que ele vai ligar? Pergunta-se em mente.
Ele
caminha pelas ruas. Está pensando se vai para casa ou se caminha um
pouco mais pelas ruas desertas. Aqui e acolá um mendigo enrolado em
panos e papelões ocupam a calçada, forçando-o a ir para o meio da
rua. Vez em quando um carro com faróis altos passa a disparada, não
respeitam sinais nesses horários.
Pequenas
corujas cantam nas árvores urbanas. Aqui e ali um gato atravessa a
rua, um cão late avançando nos portões. Ele com as mãos atoladas
nos bolsos do casaco caminha despreocupadamente. O chapéu na cabeça
proteje do vento o couro cabeludo.
Alguém
do outro lado da rua passa encarando. Parece assutado. Logo o
reconhece por causa do chapéu, cumprimenta e segue. Por volta das
01:00 chega em casa. Quando se aproxima do portão um carro encosta
rapidamente. Encoste no muro! Gritam. São policiais. Pensaram que
era um usuário que estaria invadindo a casa. Ele explica que mora na
casa. Mostra as chaves e chega a abrir a porta para que o deixem em
paz.
Entra
e fecha a porta. Está exausto, caminhara bastante, mais do que o de
costume. Não tem sono, não quer se deitar, mas não restam opções,
pois na TV nada presta, não tem internet para navegar, não ta com
cabeça pra ler. Deita-se e espera o sono vir.
Pega
o telefone, uma ligação perdida. Retorna, ela atende. A voz rouca
indica a sonolência. Ainda acordada? Sim. Você demorou ligar.
Acabei de chegar.
A
conversa se estende pela madrugada. O assunto parece nunca acabar.
Minutos de silêncio indicam que ela já adormeceu ao telefone.
Chama, ela não responde, então desliga. Haviam conversado por três
horas seguidas.
Sente
sono fecha os olhos. Não adormece. Um vento gelado invade o quarto,
mais gelado que o comum, mais frio do que a noite lá fora. Podia
sentir em cada poro, como partículas de gelo sobre o corpo todo. Tem
a sensação de que o cobertor está molhado. Retira-o completamente
e percebe que a temperatura não muda por causa disso.
Pensa
em abrir os olhos e fá-lo vagarosamente. Ve uma pessoa ao lado da
cama. Ela está deslumbrantemente vestida de um longo vestido branco
com estampas florais retas. A pele branca reflete cristais. Ela
toca-o com carinho. Ele sente a mão gelada e estremece com as
sensações. Ela parece flutuar, e em seguida começa a deitar-se
sobre ele. Estático e confuso ele fita-lhe os olhos serenos e
meigos. Enquanto ela se deita, o gelo toma conta do seu corpo. Tudo
em volta está gelado, os lábios entreabertos espera pelos lábios
dela que descem vagarosamente. Ele relaxa e sente sensações nunca
antes vividas. Os lábios tocam nos seus que estão latejantes de
desejo. De súbito ela deslisa até seu pescoço, sente algo morno
escorrendo. Não se lembra de mais nada.
Amanhece.
No banho tem sensações estranhas. Olha-se no espelho. No pescoço
dois pequenos furos.
Teme
a luz do sol. Espera a noite para sair.
Gostei muitoooooo..
ResponderExcluirObrigadu!!!!!!!!
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