Após
a
sentença
a
última
coisa
que
se
ouviria
seria
o
som
do
martelo
e
então
tudo
estaria
acabado.
O
acusado
em
sua
cadeira
era
o
centro
das
atenções.
O
jurado
eram
olhos
e
bocas,
enquanto
aqueles
estavam
fixos
no
acusado,
essas
murmuravam
entre
si.
O
juiz
era
invisível,
mas
podia-se
ouvir
perfeitamente
sua
voz
grave
que
fazia
abalar
as
estruturas
de
qualquer
acusado
e
até
dos
jurados.
A
promotora
de
(in)justiça
era
a
única
perfeitamente
visível.
Vestida
a
caráter
para
a
ocasião,
afinal
o
acusado
não
era
qualquer
um.
Com
um
vestido
longo
e
todo
preto
profundamente
decotado,
um,
sobretudo
aveludado,
maquiagem
escura
e
um
salto
alto
finíssimo,
andava
de
um
lado
para
outro,
fazendo
soar
o
barulho
do
salto
no
piso
a
cada
passo.
Ele,
o
acusado,
observa
atentamente,
cada
passo
seu,
acompanha
com
os
olhos
arregalados
cada
movimento
da
mulher.
Até
se
esquece
dos
olhos
e
bocas
que
o
conjuram,
nem
ouve
a
voz
grave
e
estarrecedora
do
juiz.
A
voz
daquela
criatura
ainda
esta
em
sua
mente
continuamente.
As
acusações
são
tão
absurdas
que
ele
não
consegue
parar
de
ouvi-las.
Os
quarenta
minutos
que
antecederam
aquele
momento
foram
os
mais
longos
da
sua
vida.
Cada
palavra,
cada
gesto,
cada
olhar,
havia
deixado
nele
impressões
devastadoras.
Não
conseguia
pensar
em
nada,
visualizar
nada.
Tão
atordoado
estava.
Todas
as
acusações
eram
falsas,
ou
quando
não,
inacreditavelmente
absurdas,
não
podia
ser.
As
provas
mostravam
que
ele
não
havia
cometido
nenhum
daqueles
crimes.
Durante
anos
fizera
tudo
o
que
esperavam,
cuidara
de
cada
detalhe
e
era
fiel
em
seus
compromissos,
mas
agora
estava
lá,
sendo
julgado
pelo
que
não
fizera.
Deveria
ter
feito,
não
deveria
ter
sido
quem
era,
era
bom
demais
para
estar
vivo.
Já
havia
pensado
antes
em
se
matar
e
deixar
um
testamento
pedindo
para
ser
cremado
e
que
suas
cinzas
fossem
depositadas
em
uma
caixinha
que
pudesse
ser
levada
pra
qualquer
lugar.
Assim,
ela
poderia
sempre
tê-lo
por
perto,
sempre
saber
onde
ele
estava
e
monitorar
todos
os
seus
movimentos,
se
é
que
ele
pudesse
se
mover
nessa
forma.
Estaria
ainda
sempre
à
disposição
dela,
nunca
olharia
pra
ninguém
e
seria
totalmente
dela,
e
não
mais
passaria
pelos
vexames
e
humilhações
pelas
quais
passara
até
então.
Mas
agora
era
tarde
demais,
já
estava
em
julgamento
e
sair
dali
pra
resolver
de
outra
forma
era
impossível.
Os
minutos
se
passavam
vagarosamente,
cada
palavra
parecia
ser
dita
em
câmara
lenta.
A
voz
do
juiz
soa
surdamente
em
seus
ouvidos
enquanto
ele
com
os
olhos
estatelados
olha
fixamente
para
a
mulher
que
está
à
sua
frente.
Ela
espera
ansiosamente
a
decisão
judicial,
caminhando
sempre
de
um
lado
para
outro,
às
vezes
olha
para
o
acusado
com
um
olhar
fulminante,
este
não
consegue
desviar
os
olhos
dela.
Era
o
que
conseguia
fazer
pra
se
manter
de
pé.
Os
olhos
e
bocas
juramenteiros
estavam
ainda
na
mesma
ação,
como
se
quisessem
arrancar
da
sua
alma
alguma
confissão
algo
que
confirmasse
as
acusações,
o
murmúrio
continuava,
ponderando
se
as
acusações
eram
ou
não
verdadeiras,
ou
pelo
menos
cabíveis
a
ele.
Era
acusado
de
muitas
coisas,
entre
elas
traição,
fornicação,
pedofilia,
tendência
a
divórcio,
etc.
Adultério
até
onde
sabia
não
era
crime,
não
cabia
então
ser
julgado
e
condenado
por
isso,
fornicação
também
não
era
considerado
crime,
pedofilia
sim,
mas
era
impossível
condená-lo
por
isso,
ela
sabia
disso,
mais
que
ninguém,
sabia
que
ele
não
havia
cometido
tal
torpeza,
e
a
última
era
inacreditável.
Tendência
a
divórcio?
É
claro
que
ele
teria!
Quem
não
tem?
As
reivindicações
eram
mais
absurdas
ainda.
Seria
absolvido
de
todas
as
acusações
se
abandonasse
a
idéia
de
se
divorciar.
Não
acreditava
nessa
condição,
pois
sabia
que
isso
não
mudaria
nada.
O
suplício
continuaria.
Para
ele
era
a
única
forma
de
se
resolver
as
coisas,
além
da
morte,
é
claro,
assim
as
brigas,
acusações
discussões,
agressões
desrespeito
etc.
acabariam,
pois
não
estariam
mais
tão
próximos.
O
som
do
martelo
do
juiz
interrompe
os
pensamentos,
os
olhos
arregalados
agora
se
desprendem
da
criatura
de
salto
alto
e
se
voltam
na
direção
da
voz
grave
e
estarrecedora.
Os
olhos
do
jurado,
ainda
fixos
nele,
como
que
esperando
qualquer
reação
comprometedora.
As
bocas
se
calam.
O
juiz
começa
um
pronunciamento
de
poucas
palavras.
Acusado
ponha-se
de
pé!
Ele
relutante se
levanta.
O
que
se
ouve
a
seguir
é
a
sentença
final
do
juiz:
O
Sr damu alamini está sendo acusado...
Não
ouve
mais
a
voz
do
Juiz,
sabia
cada
palavra
que
se
seguiria.
Os
pensamentos
divagam
sobre
muitas
coisas,
passa
em
sua
mente
como
que
um
filme
dos
últimos
cinco
anos
de
sua
vida.
Cada
detalhe
é
nítido,
como
se
fosse
um
flashback
dos
melhores
piores
momentos.
As
cenas
passam
aceleradas.
O
casamento,
os
filhos,
as
brincadeiras,
a
casa,
o
quintal,
a
bicicleta,
a
vida,
as
lágrimas,
os
risos,
as
brigas
e
bofetões.
Tudo
está
sendo
projetado
em
sua
mente
em
poucos
segundos.
O
martelo
do
juiz
soa
novamente.
Ele
se
assusta.
Olha
ao
redor,
não
vê
ninguém.
Está
na
sala
de
estar
da
casa,
totalmente
vazia.
Levanta-se
da
cadeira
onde
estivera.
Olha
no
relógio,
estivera
sentado
por
cinco
minutos.
Pega
a
bolsa
com
as
roupas,
lança
o
último
olhar
pela
casa,
despede-se
e
sai,
prometendo
devolver
a
bolsa
no
dia
seguinte.
...
Está
se
divorciando.
Péricles
Prezado colega, tiro o chapéu para o texto.
ResponderExcluirObrigado Poeta!!!
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