28 de outubro de 2011

Quando as Palavras se Vão...

Posso dizer mil palavras bonitas,
Apenas uma estraga tudo o que eu não disse. 
Posso me derramar em declarações ofegantes,
E em apenas um gesto borrar todo o esforço.
A arte de dizer não é a mesma arte de falar, e, como já dizia Salomão, o sábio
"No muito falar, não falta transgressão"...
Então como saber a hora de não falar? Ou como saber que as palavras não irão resolver?
Uma canção cantada na igreja há muitos anos diz: "Há momentos que as palavras não resolvem..." Qual seria esse momento?
Acredito eu, que não existe uma regra geral para isto. 
Cada um de nós deve ter a sensibilidade de saber quando o falar não resolve mais.
E, essa decisão precisa ser percebida e respeitada pelo outro.
Nesses momentos,
Quando as palavras se vão, os gestos dizem, eles expressam o que mil palavras não conseguiram dizer.
Quando as palavras se vão, uma expressão no rosto, implora perdão. um sorriso demonstra compreensão e aceitação, e apenas um gesto de carinho revela o mais puro Amor.
Quando elas se vão, não restam mais dolo, engano, mentiras e falsidade.
A vida mostra aquilo que se tentou dizer durante anos de falatório.
Quando as palavras se vão resta a certeza daquilo que não pode ser dito, daquilo que não adiantou dizer.
Quando as palavras se vão restam 
O Olhar, O Sorriso, O gesto, A Essência...

20 de outubro de 2011

O Beijo


Tudo parecia muito bom, estava muito perfeito, o ambiente, o clima, os olhares as conversas, as confidências.
Em uma noite escura e sombria, os dois caminhavam juntos. Não se tocavam, braços estendidos, casacos de frio, gorro na cabeça. A rua deserta era convidativa para longas caminhadas sem destino.
As conversas variavam de coisas corriqueiras do dia-a-dia a coisas obscuras como vampirismo e até sexo. Os passos na rua gelada podiam ser ouvidos de longe. Vez em quando se olham rapidamente. Os olhares fulminantes não conseguem se fixarem. Talvez pela timidez talvez pela extrema incerteza que permeava os corações. Sabiam que estavam juntos por algum motivo, mas o medo de errar, de cometerem loucuras os deixavam receosos de qualquer ação mais direta e íntima.
Caminharam até a casa dela. Uma grande casa com janelas de vidro. Apenas uma luz acesa numa pequena janela no alto. Ficaram algum tempo parados em frente, tempo demais para o momento, e pouco tempo para o que desejavam. Falaram sobre o tempo gelado, tentaram prever como estaria o dia seguinte. Mais um tempo em silêncio.
Despedem-se com um rápido beijo no rosto. Ela entra e ele caminha só pela rua escura e gelada. Some no nevoeiro. Após entrar ela se despe. Veste o roupão de dormir e se deita. Não consegue dormir. Fica com os olhos vidrados no teto escuro. O vento la fora uiva nas janelas e nos fios da rede elétrica. Ela pega o telefone. Vê as horas. São 00:40. Será que ele vai ligar? Pergunta-se em mente.
Ele caminha pelas ruas. Está pensando se vai para casa ou se caminha um pouco mais pelas ruas desertas. Aqui e acolá um mendigo enrolado em panos e papelões ocupam a calçada, forçando-o a ir para o meio da rua. Vez em quando um carro com faróis altos passa a disparada, não respeitam sinais nesses horários.
Pequenas corujas cantam nas árvores urbanas. Aqui e ali um gato atravessa a rua, um cão late avançando nos portões. Ele com as mãos atoladas nos bolsos do casaco caminha despreocupadamente. O chapéu na cabeça proteje do vento o couro cabeludo.
Alguém do outro lado da rua passa encarando. Parece assutado. Logo o reconhece por causa do chapéu, cumprimenta e segue. Por volta das 01:00 chega em casa. Quando se aproxima do portão um carro encosta rapidamente. Encoste no muro! Gritam. São policiais. Pensaram que era um usuário que estaria invadindo a casa. Ele explica que mora na casa. Mostra as chaves e chega a abrir a porta para que o deixem em paz.
Entra e fecha a porta. Está exausto, caminhara bastante, mais do que o de costume. Não tem sono, não quer se deitar, mas não restam opções, pois na TV nada presta, não tem internet para navegar, não ta com cabeça pra ler. Deita-se e espera o sono vir.
Pega o telefone, uma ligação perdida. Retorna, ela atende. A voz rouca indica a sonolência. Ainda acordada? Sim. Você demorou ligar. Acabei de chegar.
A conversa se estende pela madrugada. O assunto parece nunca acabar. Minutos de silêncio indicam que ela já adormeceu ao telefone. Chama, ela não responde, então desliga. Haviam conversado por três horas seguidas.
Sente sono fecha os olhos. Não adormece. Um vento gelado invade o quarto, mais gelado que o comum, mais frio do que a noite lá fora. Podia sentir em cada poro, como partículas de gelo sobre o corpo todo. Tem a sensação de que o cobertor está molhado. Retira-o completamente e percebe que a temperatura não muda por causa disso.
Pensa em abrir os olhos e fá-lo vagarosamente. Ve uma pessoa ao lado da cama. Ela está deslumbrantemente vestida de um longo vestido branco com estampas florais retas. A pele branca reflete cristais. Ela toca-o com carinho. Ele sente a mão gelada e estremece com as sensações. Ela parece flutuar, e em seguida começa a deitar-se sobre ele. Estático e confuso ele fita-lhe os olhos serenos e meigos. Enquanto ela se deita, o gelo toma conta do seu corpo. Tudo em volta está gelado, os lábios entreabertos espera pelos lábios dela que descem vagarosamente. Ele relaxa e sente sensações nunca antes vividas. Os lábios tocam nos seus que estão latejantes de desejo. De súbito ela deslisa até seu pescoço, sente algo morno escorrendo. Não se lembra de mais nada. 
Amanhece. No banho tem sensações estranhas. Olha-se no espelho. No pescoço dois pequenos furos. 
Teme a luz do sol. Espera a noite para sair.